(Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-voce-sa/edicoes/171/noticias/felicidade-carreira-e-maratona>. Em 10SET2015.
VOCÊ S /A
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A felicidade sempre foi o ideal do ser humano. É possível encontrá
-
la no
trabalho?
Mario Ser
gio Cortella
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É importante saber o que realmente significa a felicidade. Ela é uma
vibração intensa, uma sensação de vitalidade que nos atinge e dá um gosto imenso por estarmos
vivos. Mas a felicidade é episódica, uma ocorrência eventual. A vida é carregada por momentos de
turbulência.
Ninguém pode ser feliz o tempo todo. Isso seria uma insanidade e poderia gerar um
stress na nossa
capacidade mental. Por isso, há momentos em que a felicidade pode ser favorecida, como no local
de trabalho ou na carreira, por exemplo. Se para algumas pessoas ela representa o acúmulo de bens
materiais, para outras é o reconhecimento por algo que se está fazendo. Receber elogios de um
cliente ou do chefe, nesse sentido, proporciona uma vibração momentânea de alto nível.
VOCÊ S /A
-
Então precisamos de reconhecimento para sermos felizes?
Mario Sergio Cortella
- Reconhecimento é uma das maneiras mais usuais de obtenção de
felicidade no trabalho. Nós nos conhecemos de maneira subjetiva. Lembre-
se de que o espelho nos
mostra de forma invertida. Por isso, necessitamos das outras pessoas, sim. Quando o
reconhecimento é externalizado, a sensação de felicidade é intensa.
É o que experimenta um músico quando a plateia o aplaude. Ou um executivo, com o aumento da
lucratividade da empresa. No mundo do trabalho, a felicidade é produzida pelo reconhecimento. E
ele pode ser financeiro ou vir por meio de um agradecimento.
VOCÊ S /A
-
De que forma o senhor percebe a busca dos mais jovens pela realização
profissional?
Mario Sergio Cortella
-
Eu nasci em meados da década de 1950. Minha geração buscou
essencialmente a estabilidade como meta. O emprego estável er
a o que mais oferecia essa condição.
Já as novas gerações procuram experiências. Elas querem fazer da vida uma possibilidade de
experimentar várias coisas. A atual geração vive a agitação, que significa velocidade,
instantaneidade, simultaneidade e mobilid
ade.
VOCÊ S /A
-
Essa busca por experiência não leva à superficialidade?
Mario Sergio Cortella
-
Sim. Infelizmente, muitos estão em busca da euforia, que é algo que
desaparece rapidamente. Felicidade é muito mais denso do que isso. As novas tecnologias
ofereceram não apenas velocidade ao mundo, mas também pressa. E não se pode confundir
velocidade com pressa.
Fazer algo velozmente é sinal de perícia. Mas fazer apressadamente é sinal de descontrole. Isso tudo
gera um descompasso muito sério, porque a vida
é maratona, e não uma disputa de 100 metros
rasos. Na maratona, há momentos para acelerar e para reduzir. É necessário tirar vantagem da
velocidade, e não da pressa.
VOCÊ S /A
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Mas como transportar isso para o mundo do trabalho, onde tudo é instantâneo?
Mario Sergio Cortella
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Vivemos uma realidade multifacetada e, por isso, temos que aproveitar
essa simultaneidade das gerações e dos tempos. Eu, às vezes, caminhando pela rua, tenho a
impressão de que estou nos anos 70, um quarteirão adiante estou nos
anos 80 ou 90. As pessoas
mesclaram essa multiplicidade na moda, no mercado e no trabalho. Precisamos ter consciência disso
e tirar proveito do conjunto de habilidades que cada geração conseguiu desenvolver.
Unir o senso de urgência dos mais jovens com a experiência dos profissionais com mais idade é
benéfico. Claro que isso exige humildade intelectual e também capacidade de lidar com a
diversidade. É como uma orquestra: a beleza está na harmonia do conjunto. Pensar as empresas
como uma orquestra ajuda bastante.
VOCÊ S /A -
Capacidade de inovação vale para a carreira de um profissional também?
Mario Sergio Cortella
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Sempre que alguém me pede um conselho de carreira, eu lembro de uma
frase do Chico Xavier. Ele dizia: "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo,
qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim".
O profissional tem que prestar atenção nisso. Acredito que a reinvenção contínua é aquela que
projeta algo que seja mais do que a mera repetição do que já se tem. Uma carreira fértil é aquela
que inova, que traz para o presente aquilo que realmente tem importância e descarta o que
envelheceu.
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